Читать книгу Santa María de Montesa. La orden militar del Reino de Valencia (ss. XIV-XIX) онлайн
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Com a instalação da casa conventual da Ordem de Cristo perto da foz do rio Guadiana dava-se sinal de que se estava a desenhar uma estratégia de expansão marítima (suportada no plano ideológico pela cruzada tardia), da qual dependeria uma boa parte da projeção externa da soberania portuguesa e a qual o monarca não tinha capacidade de desenvolver sem o contributo destas Ordens Militares.
A Ordem de Cristo é uma síntese, diríamos, quase perfeita à luz da conjuntura em que foi instituída. Na perspetiva da crítica histórica, representa uma solução pouco inovadora e geradora de algum incómodo para a Coroa. Resultou, pois, da incapacidade de garantir a necessária aprovação do Papado em relação ao destino a dar aos bens que pertenciam à Igreja, por via da Ordem do Templo, implementando outra alternativa que ficasse à margem do enquadramento institucional de uma Ordem Militar. Ou seja, sabendo de antemão que os bens da Ordem do Templo nunca poderiam sair do círculo da Igreja, o rei limitou-se a decalcar um modelo preexistente, sugerindo a criação de uma nova Ordem Militar (tenha-se também em consideração o exemplo da Ordem de Montesa, instituída em 10 de junho de 1317),ssss1 embora com um vínculo institucional à Ordem de Calatrava, dependente do rei de Castela, o que encerra uma contradição significativa. Para mitigar esta influência, que poderia minimizar a supremacia do rei de Portugal, estipularam-se duas cláusulas fundamentais: a Ordem ficava submetida à correição e visitação do Abade de Alcobaça, mosteiro português de Cister,ssss1 e o Mestre de Cristo devia fidelidade ao rei de Portugal.ssss1 Na perspetiva dos freires, esta manipulação régia poderia não constituir uma limitação e ser até conveniente, já que se viviam tempos em que a proximidade à Coroa viabilizaria o modo de vida destes homens, nomeadamente, os seus compromissos sociopolíticos. Por sua vez, na perspetiva de D. Dinis, não se sabe se prevaleceria um sentimento de satisfação e de segurança, por ter conseguido intervir de forma direta no universo institucional das Ordens Militares, exercendo apertado controlo sobre as mesmas, ou, um sentimento de frustração, por ter tido a pretensão de dar um outro destino a esses bens, mas de impossível resolução no quadro do Papado que dirigiu o processo.